sábado, 22 de maio de 2010

A persistência da pequena Alcilene Gurgel venceu a arrogância de Carioca e o poderio do governo do PT

Um movimento que parecia não se sustentar por mais de 24 horas, tendo em vista os bombardeios vindos do Palácio Rio Branco e a prepotência do principal negociador do governo, trincou mas não quebrou, e depois de muitas idas e vinda que durou 29 dias terminou por triunfar. A professora Alcilene Gurgel, que muitas vezes ficou quase que sozinha enfrentando a bateria de deputados governistas e os ataques do Assessor de Assuntos Políticos do Governo, Francisco Nepomuceno, Carioca, não se deu por vencida. Aos poucos, com seu jeito simples e meigo foi dando volume ao movimento, parou as salas de aula, implorou para que Binho ouvisse seus apelos numa vigília minguada e conseguiu colocar na rua trabalhadores do setor de educação, causando um dos maiores transtornos já vividos pela administração de Binho Marques.
O movimento queria reposição salarial de 10.96%. O governo insistia em conceder apenas 2,5% de reajuste. Não teve acordo no primeiro momento e o governo chegou a encerrar as negociações por decisão equivocada do Francisco Nepomuceno Carioca, que depois, desmoralizado, teve que retornar à mesa para sentar com a professora Alcilene e outros representantes da classe, que provaram ter o governo condição de atender o que os servidores queriam.
Aos poucos o governo começou sofrer desgaste político perante a sociedade e numa tentativa desesperada de parar o movimento, o deputado Moisés Diniz [PCdoB], líder do governo da Aleac, tentou, sem sucesso, negociar por conta própria. O resultado todos conhece: ele saiu com a mão na frente outra atrás, dizendo que não falava em nome do governo.
Com a estratégia governista fracassada, outros operadores entraram em ação, enquanto o movimento se unia cada vez mais.
Passada uma semana da árdua vitória, Alcilene abriu as portas de sua casa, para receber o repórter Salomão Matos do ac24horas e contou como foi essa “batalha" contra o estado, para garantir o direito de aumento de salário para os educadores, que já vinha sendo negado desde 2009 pelo governador Binho Marques, do Partido dos Trabalhadores.

Vamos a entrevista:
ac24horas: Professora, porque a radicalização nesta negociação salarial com o estado?
Alcilene: Na verdade já era um direito adquirido nosso desde o anos passado. Nós queríamos 15% de reajuste de salário mais perdas da inflação de 9.14%. Muito embora o estado já tivesse nos garantido que esse percentual iria ser concedido, eles ficaram enrolando até que chegou a um ponto que não dava mais para acreditar somente nas promessas.

ac24horas: A senhora cita o verbo “enrolar”. Explique por favor...
Alcilene: Desde o ano passado que já havíamos apresentado a nossa proposta de reajuste ao governo, então o Carioca ficava sempre de nos receber e ia sempre prorrogando o prazo, prorrogando e só no dia 30 de março é que foi aberta a primeira negociação, ou seja: ele sabia que após o dia 3 de Abril eles [governo] não poderiam mais conceder qualquer ajuste de salário por causa da Lei eleitoral. Isso é ou não é uma enrolação com a gente?

ac24horas: Mas esse canal de negociação foi aberto faltando apenas 3 dias para esse prazo inspirar, sem contar que dia 1º de abril foi feriado, dia 2 foi sexta-feira da paixão e dia 3 caiu num sábado. A senhora avalia que eles não queriam de fato conceder esse reajuste?
Alcilele: Eu não tenho a menor dúvida . Esse governo que ta aí, jamais quis sentar para negociar. Embora seja o Binho um professor e sabedor do sofrimento que passa um professor em sala de aula, ele nunca veio até nós para conversar e sempre mandou seus “capatazes” para fazer o trabalho sujo.

ac24horas: A senhora quer dizer que a equipe de articulação do governo [Carioca, Josenir Calixto, Jean Mauro e Sérgio Roberto] sentou com vocês não para chegar a um acordo?
Alcilele: Eles nunca quiseram nenhum acordo conosco e você esqueceu de citar mais um da equipe de articulação que se chama Mâncio Lima Cordeiro. Esse aí, é igual ao Binho e embora faça parte da mesma equipe de articulação, nunca compareceu a uma dessas reuniões. Em todas as reuniões eles só diziam para nós voltarmos ao trabalho e só assim poderia negociar.

ac24horas: Mas a mídia divulgou que o governo chegou a apresentar para vocês uma proposta de até 2,5% de reajuste no salário. Isso não é verdade?
Alcilene: Tudo que vocês leram, ouviram ou assistiram na mídia, com raras exceções, é tudo mentira. Tudo coisa paga para desacreditar o movimento e dizer que o governo é bonzinho e que quer o melhor para a categoria. Nada disso chegou a ser acordado e até mesmo se fosse, nós não iríamos aceitar. A greve era e foi o nosso jargão de luta e vencemos.

ac24horas: Durante a greve, a senhora chegou a denunciar que o governo estava fazendo pressão e até ameaçando os professores. Como foi isso?
Alcilene: Eles usaram de todos os artifícios. Primeiro tentaram dizer que o movimento não era legítimo, numa tentativa de nos colocar contra a categoria e a sociedade [diga-se: pais e alunos]. Segundo, eles publicaram várias notas nos sites oficiais e na “mídia paga”, dizendo que éramos nós que não estávamos querendo entrar num acordo. Terceiro, eles começaram a intimidar os professores com corte nos salários. Depois ameaçaram os de contrato provisório com demissão. Quarto, eles filmavam uma sala de aula cheia de alunos e colocavam na TV para dar a impressão de que a greve havia terminado, que era uma mentira e quinto, mandaram a própria secretária Maria Correia, dizer na mídia que as aulas perdidas estavam proibidas de serem ministradas aos sábados. É mole ou quer mais?

ac24horas: Durante a greve, a senhora disse que houve muita perseguição contra sua pessoa e os principais articuladores do movimento. Como foi isso?
Alcilene: Esse Carioca é um Maquiavel. Em todos os nossos encontros, reuniões e assembléias, ele infiltrava pessoas para gravar tudo que dizíamos e ainda fotografar tudo. Ele sabia cada passo que dávamos. Eu chamo isso de terrorismo e não de um governo que se diz democrático. Eu sinto falta do Jorge Viana (ex-governador do Acre, PT) que ao menos sentava com a gente e queria realmente resolver da melhor maneira. Com o Jorge, o justo era justo. Se não fosse de todo possível, com certeza ele fazia o melhor para que todos saíssem ao menos satisfeito.

ac24horas: Qual foi o papel do Sindicato dos Trabalhadores em Educação - SINTEAC, que entrou no movimento já no meio da greve, fortalecendo o movimento? A senhora teve total apoio do presidente Manoel Lima?
Alcilene: Infelizmente não. Nós do Sinplac que carregamos o piano o tempo todo. A categoria dos professores e trabalhadores sim nos apoiaram. Mas o Manoel, ele queria adiar a greve geral e ficar do lado do governo. Quando foi numa assembléia geral que todos ficaram de pé dizendo que iriam nos apoiar e entrar no movimento grevista, ai sim. Ele viu que estava só e foi o jeito abraçar também a nossa causa. (risos)

ac24horas: Foram 29 dias de greve. Em algum momento, a senhora pensou em desistir e acreditar que a batalha estava perdida?
Alcilene: Em nenhum momento eu pensei nisso. Eu penso que você não faz idéia do que é passar esses dias todos, todos os dias enfrentando sol, chuva, indo de escola em escola conversar com os professores de contrato provisório e ainda passar o dia todo falando no microfone. De tanto sol e sem poder ir muitas vezes sequer ao banheiro, eu peguei uma infecção urinária. Mas isso não é nada para quem acredita que o correto tem de ser corrigido. Eu me sinto feliz e digo muito obrigado; primeiramente a Deus, os meus filhos, meu marido e meus colegas que acreditaram na nossa luta. Vencemos, é isso que importa.
Salomão Matos - da redação ac24horas

Um comentário:

  1. Eita mulher porreta!!! Essa tinha que ser era da AME/AC para brigar com o governo pelos direitos dos militares. Essa é de ROCHA!!! PT NUNCA MAIS! FORAAAA! 2010 É HORA DAMUDANÇA, VAMOS DAR A RESPOSTA NAS URNAS JÁAAA!!!

    ResponderExcluir

Evite palavrões. Dê seu apoio, faça a sua crítica, mas com respeito a todos.